Sites e blogs: duas ferramentas utilizadas no jornalismo de moda
“As grandes marcas já apostam nos blogs e as que não têm isso ainda no plano de mídia estão por fora! Tanto que, você já viu uma revista sem site? Sem blogs?”. Esses questionamentos são feitos por Natália Clementin, autora de dois blogs, explicando que, de fato, todo o conteúdo de moda se não migrou, ainda vai migrar para a web. Mas, algum dia você já parou para contar quantos sites ou quantos blogs de moda existem na internet?
A pesquisadora Daniela Hinerasky tem a resposta e, inclusive, a publicou num estudo feito em 2010. Na época ela utilizou uma ferramenta do site de buscas "Google" (blogsearch.google.com) para procurar o termo “blog de moda”, e naquele momento chegou a soma de mais de 12 milhões de referências. Isso não significa que no Brasil exista essa mesma quantidade de páginas sobre o assunto, mas isso demostra a quantidade de vezes que essa expressão foi usada/escrita na rede.
Achou um número muito além do que você imaginava? Então pense numa publicação de moda, qualquer uma, pense, também, num programa que aborde o assunto e depois utilize um site de buscas para procurar por ele. Certamente não será difícil encontrar uma versão online do termo pesquisado. Isso sem contar os diversos sites que não estão ligados a qualquer veículo impresso, radiofônico ou televisivo, mas que fazem sucesso na internet.
Ambas as ferramentas de comunicação, blogs e sites, conseguiram conquistar um espaço importante no ambiente online. A diferença entre eles? Poucas, os sites contém mais de cinco páginas dentro dele com o mesmo tema, já blogs, possuem menos páginas e são escritos em ordem inversamente cronológica, de acordo com Patrícia Ribeiro. Com a intenção, sempre de abordar um único tema, no caso a moda, revistas e programas de televisão foram criando aos poucos suas páginas, uma necessidade de adaptação à nova realidade da comunicação, de acordo com Natalia Clementin.
Sites
Quando o assunto é site de moda, essa ferramenta pode ser dividida basicamente em duas categorias: os que nascem a partir da versão impressa de uma publicação ou de um programa; e aqueles que têm como berço a própria rede. Com relação ao primeiro grupo, Bruna Bauer, editora dos sites “Elle”, “Manequim” e “Estilo”, comenta que as páginas são abastecidas com conteúdos próprios para web, mas, o que é divulgado na versão impressa não é jogado fora. “A gente aproveita, também, o que está nas revistas, sim, como editoriais e fotos, que têm produções maravilhosas. Mas aquele conteúdo foi pensado por mais tempo, com outro olhar. No site a gente tem que focar mais para o dia-a-dia”.
Há casos em que o site é produzido em função de uma publicação, porém, traz as mesmas informações contidas na versão impressa, como no caderno “Ela”, destinado ao público feminino, do jornal “Cruzeiro do Sul”. A página não consegue ser abastecida com informações voltadas exclusivamente aos internautas por conta da falta de tempo dos jornalistas da redação, diz a editora Helena Gozzano. Sabendo da realidade que é a comunicação através da web, Helena é enfática ao afirmar que no futuro faz planos para divulgar materiais produzidos especialmente para essa mídia, basta ter mais profissionais disponíveis e que possam escrever sobre moda na equipe do jornal.
Já no caso dos sites que nascem na própria internet, Maíra Goldschmidt, editora do site "Chic", da consultora de moda Gloria Kalil, conta que ele nasceu para dar continuidade ao assunto tratado no livro homônimo de Glória. Dessa forma, notícias sobre as peças de roupas e acessórios que são o “último grito da moda” são divulgadas constantemente, aproveitando a rapidez propiciada pela rede mundial de computadores.
Matérias consideradas “frias”, ou seja, que não tratam de um tema super atual, também, possuem espaço dentro da página. “O Chic tem uma orientação para valorizar a seção ‘Como Usar’, já que o forte da Gloria é a consultoria”, explica Maíra. Essa seção oferece respostas a questionamentos frequentes feitos por internautas como, por exemplo, que tipo de roupas vestir ao conhecer a sogra e como utilizar óculos espelhados sem parecer “over”, ou seja, brega.
Veja um exemplo da seção "Como usar", onde Glória explica como usar o "hit" do inverno 2011, a calça vermelha. Imagem capturada por Luciana Morais.
Já Lukas Godoy, editor-chefe e criador do site "Homem Moderno.com", ao contrário de consultora, nunca trabalhou em outros meios de comunicação, como o impresso, a televisão e o rádio e não tem receio ao dizer que escolheu a internet para falar sobre questões da moda masculina, beleza e saúde, pois essa é uma mídia de fácil acesso e que atinge um grande número de pessoas. E não é que o rapaz estava correto? A página, que foi criada em 2009, já possui 2,5 mil acessos por dia, um número interessante, já que segundo Godoy, há poucos anos quase não havia sites que tratavam de moda masculina.
Blogs
Criados inicialmente como diários online, alguns blogs atualmente possuem, também, a proposta de produzir e postar coisas relativas ao jornalismo de moda. Além de pessoas comuns, consultoras e produtoras de moda, muitas instituições jornalísticas e empresas da indústria da moda têm criado, blogs e não apenas sites.
A jornalista Nátalia Clementin tem a oportunidade de falar sobre a moda feminina em uma página institucional e outra, pessoal. Uma é o “Blog das Meninas”, hospedado há dois anos no portal da "TV Tem", e criado a pedido da filial da rede Globo em São José do Rio Preto, que queria um local em que quatro mulheres falassem sobre assuntos femininos. Outra página é o “Blog da Nala”, que surgiu para que a autora escrevesse sobre os assuntos que desejasse. A diferença entre os dois? Poucas, de acordo com Natália. “O Blog das Meninas é mais de reflexão, algumas frustrações femininas, além de ser corporativo, então temos que abordar alguns temas que sabemos que a rede gostaria. No meu blog, pinto e bordo da maneira que eu quero, sou mais livre”.
É o que faz, também, a blogueira Heloisa Gomes, do “Sanduíche de Algodão”, que não possuía a mesma liberdade atual quando trabalhava na redação do portal “IG” e do “Glamurama”, onde tinha que seguir direcionamentos preestabelecidos. Atualmente, ela determina o que será pauta de acordo com suas descobertas do que acredita ser interessante no mundo da moda. No caso do blog “Petiscos”, há diversas colaboradoras, além da publicitária Julia Petit, quem criou o blog. Adriana Hagedorn, editora da página, diz que há uma meta de haver postagens a cada 30 minutos, uma verdadeira correria. Sendo assim, é preciso que cada membro da equipe tenha consciência de que material que está divulgando agradará o público, que se interessa por um “mix” de informações culturais, já que Julia não consegue “bater o martelo” sobre tudo o que será veiculado.
Sites e blogs de moda masculina
Quando se fala em moda, muitas pessoas pensam imediatamente no público feminino, no entanto, com a disseminação de ferramentas de comunicação, os homens começaram a ganhar seu espaço. Claro que a aceitação cada vez mais ampla se deve, também, a atitude de alguns homens, que estão assumindo que gostam de cuidar do cabelo e do corpo, bem como se interessam em se vestir bem. Esses são os chamados “metrossexuais”, expressão criada pelo norte-americano Mark Simpson, em 1994, que diz respeito ao homem muito vaidoso, independente da orientação sexual dele, conforme entrevista feita com o próprio Simpson e veiculada pelo site da revista “Veja”, em 2004.
Há alguns anos, o homem também vem ganhando espaço na web com a criação de sites e blogs sobre o tema. Na imagem acima, do site "Homem Moderno.com", é possível conferir como usar outras cores, que não apenas o "pretinho básico". Imagem capturada por Luciana Morais
Mesmo havendo mais aceitação por parte dos homens, o tema ainda não é tão bem recebido como ocorre no universo das mulheres, afirma Guilherme Cury, editor do blog “Moda para Homens”. “A moda masculina difere da feminina no Brasil pelo pré-conceito e também pelas limitações”. Ele comenta que os brasileiros possuem, ainda, certa resistência com relação ao assunto, temem ser confundidos com homossexuais ou pensam que buscar informações sobre o que é tendência é coisa de mulher. Quanto às limitações, Cury entende que até mesmo por esse receio e a falta de preocupação com o tema de uma parte do público masculino, não há grandes investimentos nesse setor.
O mais complicado, então, nesses casos, não é exatamente decidir o que é pauta ou não, mas, sim, tentar vencer as barreiras do preconceito, coisa que está acontecendo aos poucos, garante Cury. A iniciativa de pessoas como Cury e Lukas Godoy, que criaram suas páginas em função de não ser um assunto muito abordado na rede, é importante para que o tema seja cada vez mais abordado não somente na internet, mas, sim, em outros meios.
Atualmente, a página, criada em 2009, recebe 590 mil visitantes por mês. Já o blog “Pestiscos”, destinado mais a moda feminina e criado em 2007, possui 3.5 milhões de acessos por mês. O número das duas páginas está longe de ser o mesmo, mas se for levado em conta que o primeiro surgiu dois anos depois e trata de um assunto que, ainda, é visto com receio, os resultados obtidos por ele são satisfatórios, pelo menos para o editor Cury. Lukas Godoy acredita que os resultados conquistados pelas páginas de moda masculina devem ser comemorados e diz: “Eu acho ótimo, porque eu sei que existe uma demanda de mercado para esse tipo de conteúdo. Só falta os homens perderem o preconceito - como já acontece lá fora”, afirma.